REDES SOCIAIS

Padre. Entre crise e renovação

em domingo, 7 de agosto de 2011

O padre é uma figura mais do que nunca conhecida. Ele está presente em todas as cidades, apresenta programas de tv, grava cds, escreve livros e, também, é tema de reportagens de todos os tipos. Contudo estes trabalhos do padre, e sobretudo do “padre moderno” não dizem o que é realmente o sacerdote católico. Configurado a pessoa de Jesus Cristo Pastor por meio do Sacramento da Ordem, o presbítero tem a missão de ser no mundo a presença misericordiosa do próprio Jesus. Sua obra principal é a de promover o encontro pessoal dos seus irmãos com Jesus através do anúncio do evangelho, da dispensação dos sacramentos e do próprio testemunho de vida de comunhão com Deus e com os irmãos. Quando isto não acontece ou passa a ter um valor apenas complementar na sua vida, podemos afirmar que a figura e a própria pessoa do ministro estão em crise. E é isso que tem-se revelado nos últimos tempos. Esta crise pode apresentar-se mais perceptível e escandalosa quando explodem casos de deploráveis atos na área da sexualidade ou da administração dos bens dos fiéis, mas é igualmente real quando o “homem de Deus” já não tem tanto tempo para o seu povo, o “povo de Deus”, devido aos compromissos que a própria “carreira” lhe impõe.
                A sociedade mudou e é justo que o modo de atuação do ministro acompanhe o seu tempo, contudo se ele se deixa invadir por todas as novidades do momento poderá esvaziar-se de tal modo que já não falará a partir de sua experiência cotidiana com o Sagrado, mas sim das misturas e confusões que gerou em seu íntimo pelo consumo desenfreado de tudo que se lhe apresentam. Há uma crise no padre porque no fundo há uma crise de identidade da pessoa humana: os papeis sociais cada dia mais são questionados e os valores passam por mudanças contínuas que geram instabilidade e insegurança. Se não existem verdades universais, o que me garante que o que sou e faço é de fato justo e bom? Só pela fé na Revelação ou, ainda, pela compreensão da lei natural é que podemos aceitar verdades perenes e irrefutáveis que nos ligam intimamente a uma realidade que supera o imediatismo da pós-modernidade. Se o padre ou qualquer outro crente perde de vista esta referencia suprema, sua vida e missão tornar-se-ão sem sentido, e quando isto acontece atingiu-se o ponto abissal da própria perplexidade.
                Diante da crise, o homem de fé espera e, mesmo que não seja um contemplativo, busca no próprio interior a chave, como muito bem escreveu Thomas Merton: “nem todos os homens são chamados à vida eremítica, mas todos necessitam de certa dose de silêncio e solidão, para permitir-lhes ouvir, ao menos ocasionalmente, a voz interior profunda do seu verdadeiro eu”. Só através do encontro silencioso consigo mesmo e com Deus é que podemos vislumbrar a superação da crise de identidade do sacerdote. Tal superação não significa, porém a ausência absoluta de questionamentos, dúvidas e imperfeições, mas sim a coragem de centrar-se naquilo que se é, inclusive com as próprias contradições, pois “conviver com o paradoxo pode não ser fácil ou confortável: não é indicado para preguiçosos, condescendentes ou fanáticos” (Esther de Waal, Vivendo com a contradição. Ed Mosteiro da Santa Cruz, Juiz de Fora, p.23). O padre é um homem comum revestido desde o interior com a unção de Deus para o serviço de todo povo sacerdotal. Esta unção para o ministério é que deve dá o norte de sua existência; se ele age na sua prolongação será um homem feliz, mas se ao contrário troca, suplanta, menospreza, minimiza ou trai voluntária e sistematicamente o “dom de Deus” passará da crise natural a uma estado permanente de frustração. Neste caso, o abandono do ministério seria a atitude mais sensata e honesta. No Concílio Vaticano II a Igreja apontou um meio muito seguro para a vida e a missão do presbítero: as fraternidades sacerdotais (Prespiterorum Ordinis, nn. 7 e 8). O modelo do padre isolado fracassou!
Pe. José Lenilson de Morais
Ad. Paroquial de N. Senhora do Ó – Nísia Floresta
Orientador espiritual do Seminário de São Pedro e da Comunidades Discípulos da Mãe de Deus

Um comentário:

  1. Maravilhosa reflexão, que norteia não somente a vida secerdotal, mas também a nossa vida enquanto missionérios leigos da Igreja de Cristo Jesus.

    ResponderExcluir

About



Topo