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ARTIGO

em quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Perdão e reconciliação
Quando somos feridos em nossa dignidade, quando nossos direitos são violados e a injustiça se sobrepõe, quando somos vítimas de difamação e leviandade não aceitamos falar sobre perdão. Se a situação é oposta, nosso coração e nossa consciência clamam sedentamente por reconciliação. Na verdade, em ambos os casos, de réu ou vítima, o perdão e a reconciliação constituem-se no melhor remédio para sanar as feridas e encontramos a paz. Não é fácil de entender e muito menos de praticar. Admitamo-lo! O nosso natural senso de justiça pessoal e coletivo diz-nos que ao “perdoarmos a quem nos tem ofendido” estamos dando ao ofensor o direito de continuar a agir maleficamente. É por isso que muitas pessoas dizem, determinadamente, que não perdoam porque não podem esquecer. Será que perdoar é igual a compactuar com a injustiça? Reconciliação significa esquecer todos os erros e injustiças de uma pessoa? Sejamos cautos e entremos com respeito neste tema. No ensinamento cristão o perdão aparece, em primeiro lugar, como um ato totalmente livre de Deus. Em Jesus, Deus revela a sua máxima misericórdia perdoando os homens e as mulheres de todas as suas faltas. A grande novidade, boa-nova, evangelho é que Deus mesmo assume a dívida que com Ele as gerações haviam contraído. Obviamente esta “dívida” não era econômica nem material, mas o ato de contínua negação e rejeição do homem para com seu Criador. Podemos dizer que o pecado, além de um fato pontual, apresentado simbólica e poeticamente no capítulo III do Gênesis, é o contínuo e crescente afastamento do ser humano do amor de Deus. Distanciado, por livre escolha, o humano precisou do abaixamento do divino: Deus fez-se um de nós, assumiu nossas angustias, medos, dores e pecados e, na Cruz, nos reconciliou consigo mesmo. Daí é que nasce o sentido do perdão e da reconciliação mais profundo: sendo totalmente inocente Jesus paga o preço da Cruz – na época, sinal de máxima condenação – para libertar e reaproximar os próprios ofensores e devedores.
Seguindo o modelo do Mestre, Paulo escreveu aos seguidores de Cristo do seu e do nosso tempo: “Revesti-vos de sincera bondade, humildade, mansidão e paciência, suportando-vos uns aos outros e perdoando-vos mutuamente, se um tiver queixa contra o outro. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai vós também” (Cl 3,12-13). Observemos que a conclusão é que dá o entendimento do todo: “como o Senhor vos perdoou”. Perdoa quem já se sentiu perdoado. Imaginemos que recebêssemos uma fatura do cartão de crédito com uma enorme conta feita por nós mesmo, por nossas escolhas, por nossos erros. Alguém sabendo de nossa angustia vai e paga a nossa dívida. Penso que nosso alívio, gratidão e paz seriam abundantes. Quando alguém é perdoado sente algo mais forte e vivificante. O perdão liberta o ser humano dando-lhe a oportunidade, talvez única, de voltar a viver, de sonhar com a reconstrução de sua história até encontrar-se um dia diante do Sumo Bem, da Suma Verdade e da Suma Justiça. O perdão, contudo, não beneficia apenas uma das partes. Só o perdão de Deus é totalmente desinteressado, pois só ele é pura graça. Nas relações humanas o perdão, se sincero e de coração, liberta uns e outros criando a oportunidade para um recomeço, mesmo que seja a longa distância. Antes um perdão distante, que uma presença atormentadora. O perdão, por fim, não dispensa a reparação. O perdoado deve, enquanto possível, reparar os danos de seus feitos. Algumas vezes é simples, outras a reparação é quase impossível. Sem dúvida alguma, o verdadeiro arrependido e perdoado mudará para sempre suas atitudes. Isto também é reconciliação.
 (Pe. José Lenilson de Morais)

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