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Palavra do Pároco aos fiéis

em domingo, 10 de outubro de 2010

Aborto, eleições e acordão
           

Tenho acompanhado atentamente os recentes debates políticos envolvendo várias questões, entre elas a do aborto. Foi, sem dúvida, a exposição sobre delicado tema que empurrou as eleições para o Segundo Turno, o que é muito positivo para que o brasileiro possa aprofundar suas opções e não “chorar o leite derramado”. O problema que vejo no caso do aborto é que a questão é tratada emotivamente, sem um real aprofundamento. A pergunta fundamental não deveria ser se fulano(a) é a favor ou contra o aborto, se o aborto é questão de fé ou de saúde pública. Mais do que científica, estatística ou teológica, a interpelação deveria ser filosófica ou antropológica: é permitido ao um ser humano tirar a vida de outro em algum estágio do seu desenvolvimento? A legalização da destruição de uma vida inocente, torna moralmente aceitável um ato, em si mesmo, contrário à dignidade da mãe e do filho? O feto é apenas “uma parte do corpo da mulher” ou outro ser vivo dotado de um código genético aberto e programado ao pleno desenvolvimento? É triste perceber como por parte dos legisladores, dos cientistas e até dos representantes religiosos, o aborto é tratado de modo meramente positivista, fideísta e artificial. Os cristãos e todos os humanos sensatos deveriam se posicionar claramente contra o aborto não por uma questão de fé, de bíblia, ideológica ou partidária, mas unicamente por causa da vida dos inocentes que está em jogo. E aqui não vale jogar sujo contra as igrejas, recordando-lhes os pecados de seus membros ou afirmando que esta é uma questão que não lhes compete.
Em um país dito democrático, onde se é permitido defender até a legalização da maconha, onde a pornografia e a pornofilia velada está presente em toda esquina e em inúmeros repertórios musicais, as igrejas cristãs têm o direito de se pronunciar, ainda que não seja através dos seus organismos oficiais. Se o debate não é feito de modo profundo e com exigência de posições claras (sem artificialismo) poderemos depois lamentar pelo “grito” que não foi dado. Infelizmente, na grande massa da população, as decisões na hora do voto ainda são regidas “pelo cabresto”, e este agora se chama “bolsa família”, instrumentalizado por uns e por outros para subjugar pelo medo a vontade dos pobres. No cenário nacional o mais triste é ver que “os cristãos não são mais cristãos”. Obviamente, não me refiro à população como um todo, mas a muitos dos homens públicos – inclusive religiosos – que usam o nome de católicos, evangélicos, assembleianos, batistas, “universalistas”, “valdomiristas”, mas não se comprometem, na realidade concreta de suas vidas, com a causa do Evangelho de Jesus: o respeito, a dignidade e o valor da vida humana em todas as suas fases. É triste ver profissionais, políticos, educadores católicos que não passaram da catequese de Primeira Eucaristia. Qual o futuro da igreja? das igrejas? da “nação cristã brasileira”? O aborto será aprovado! Ganhando os que “serram privatizando” ou os que “distribuem bolsas”, o aborto chegará. Basta um acordão! O Brasil gosta de imitar as “nações desenvolvidas”. Só nos resta perguntar: quem gritará o grito dos inocentes sufocado pela mão destruidora do homem?
Pe. José Lenilson de Morais
Pároco de Nísia Floresta


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