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Sexo orquestrado

em sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012


Antes e durante o carnaval, ocorre uma intensa campanha, bem orquestrada, em favor do uso de preservativos. Promete relações sexuais sem perigo de contaminação pelo vírus da Aids. Com aplausos em nível internacional, o Brasil se apresenta hoje como um modelo a ser seguido na luta contra a propagação desse terrível mal. A tônica utilizada, através da mídia, é que se alcançou o dito ''sexo seguro''. Toda a campanha se concentra exclusivamente nesse método, isto é, no preservativo vulgarmente chamado ''camisinha''. Essa discriminação, preferindo-a a outros métodos, parece muito estranha, principalmente por estar em jogo a vida humana. Diante da gravidade da epidemia, é incompreensível que organismos destinados a preservar a saúde, em suas informações, omitam ou deixem em semi-obscuridade a abstinência sexual ou, ao menos, o parceiro único. Não nos esqueçamos de que a promiscuidade sexual é um dos fatores mais importantes na difusão desse vírus.
Felizmente, algo começa a mudar. Contudo, esses ventos ainda não chegaram efetivamente até nós. Toda uma mentalidade pró-liberdade irrestrita na prática do instinto sexual inibe a proclamação de outros meios capazes de impedir, com segurança, o contágio da Aids. O preservativo, chamado ''sexo seguro'', na verdade nem sempre o é. Todas as vezes que se rompe o látex, usado por alguém infectado, uma vida humana fica exposta. E o responsável por esse desastre escapa à punição.
Acabo de receber uma notícia que tem por título ''Notável mudança na política sobre Aids''. Vem de Washington, com data de 7 de janeiro último. Após 15 anos de intensa luta, o Senado de Nova Jersey aprovou uma lei que estabelece plano de promoção da abstinência sexual entre os alunos das escolas públicas, como ''a única maneira confiável'' de evitar a gravidez precoce e as enfermidades decorrentes de relações sexuais, principalmente a Aids ou Sida. Comentando o evento, disse John Tomicki, diretor executivo da Liga das Famílias da América: ''Praticar a abstinência é a melhor proteção contra a Sida e outras enfermidades de transmissão sexual''. A lei obriga a que qualquer livro ou vídeo, utilizado em classe, deva mostrar essa opção como a melhor. Alguns métodos de anticoncepção poderão ser mencionados, mas os professores deverão explicar bem os riscos que apresentam. A diretora de uma associação educativa de Nova Jersey afirmou que os materiais de ensino terão de ser substituídos ou reescritos, já que, atualmente, os colégios públicos ensinam a abstinência em oitavo ou 12° lugar, em ordem decrescente, quanto à eficácia. Recebi também diversas outras informações que justificam a esperança de uma alteração na propaganda que identifica o uso do preservativo com o sexo seguro.
A relevância deste título nos faz refletir: ''Evidência de fatores de risco, pelas falhas das camisinhas, entre os militares franceses estacionados no além-mar''. Tem origem nos Serviços de Medicina das Coletividades e no Instituto de Medicina Tropical, do Serviço de Saúde do Exército, Marselha, França. Esse Serviço Médico do Exército Francês vem distribuindo gratuitamente ''camisinhas'' ao pessoal de além-mar, desde 1989. Anos depois, constatam que as relações sexuais anais e o abuso do álcool são os principais fatores na falha dos preservativos. Os resultados desse estudo mostram que eles não dão uma proteção absoluta. A vigilância sanitária oficial deveria informar o público sobre os fatores de risco, devido às falhas das ''camisinhas''. Em uma publicação, vi uma foto de produto fabricado nos Estados Unidos, destinado às pessoas que têm alergia ao látex do preservativo comum. Como é confeccionado com tecido proveniente de víscera de carneiro, não impede o HIV. Traz a seguinte mensagem impressa: ''Este produto é elaborado para ajudar a prevenir a gravidez. Ele não protege contra a infecção do HIV (Aids) e outras doenças sexualmente transmissíveis''. Sem concordar com a destinação anunciada, reconheço a honestidade, declarando não impedir a propagação da Aids. Quantos teriam evitado a contaminação por uma doença ainda sem cura - mortal, portanto -, se não tivessem sido enganados! Uma campanha que apresenta o preservativo como estímulo ao sexo livre promove a epidemia e recebe os aplausos dos que advogam o direito à sexualidade sem restrições. Quem prefere assegurar a vida, mesmo não sendo cristão, pratica a abstinência sexual ou decide firmemente por um parceiro único e inume ao vírus. Quem viajaria de avião, se, ao entrar no aeroporto, uma faixa anunciasse que somente 87% dos passageiros chegariam ao destino com vida?
A Comissão Permanente do Episcopado Espanhol, em uma nota sobre o preservativo, faz considerações que nos obrigam à reflexão sobre o assunto. É um erro ocultar da população ser a permissividade sexual indiscriminada o maior fator de risco da Aids. Favorecendo de modo irresponsável esse procedimento, como se vem fazendo, através de iniciativas oficiais de informação, acaba-se por torná-lo um dos elementos que têm contribuído para que muitos considerem a promiscuidade sexual algo moderno e, em conseqüência, os responsáveis por tais campanhas têm aumentado os riscos de contrair-se a Aids.
O assunto aqui tratado interessa a milhares de pessoas. Evidentemente, não aos que já foram contagiados pelo HIV, pois se refere à prevenção e não à cura que, infelizmente, não existe ainda. Não me dirijo somente aos católicos, mas a todas as pessoas que necessitam de uma palavra segura, independentemente do credo religioso que professam. Essas também devem ser instruídas, para que evitem a pena de morte pelo vírus que ameaça a humanidade.
A proposta de um ''sexo seguro'' usando o preservativo fere a verdade. Mesmo os que não são cristãos também têm o direito de serem advertidos para a realidade. Por isso, vale para todos a norma do parceiro único, da fidelidade conjugal e jamais deixar-se ser objeto de uma propaganda que envolve uma inverdade. O preservativo apresentado como seguro - e não é - termina por fomentar a epidemia.


Dom Eugenio Sales
cardeal, é arcebispo emérito da Arquidiocese do Rio de Janeiro


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