Arcebispo emérito do Rio tinha 91 anos e
sofreu um infarto em casa.
Ele foi uma referência na defesa de perseguidos por regimes militares.
O cardeal Dom Eugênio de Araújo Sales, arcebispo emérito do Rio, morreu
às 22h30 desta segunda-feira (9), aos 91 anos, após sofrer um infarto em
casa.
Segundo a Arquidiocese do Rio de Janeiro, velório e enterro serão na
catedral da cidade: o velório nesta terça de manhã, e o enterro, na
quarta, às 15h.
Nascido em Acari (RN), em 11 de novembro de 1920, Dom Eugênio Sales foi
ordenado bispo aos 33 anos, em Natal (RN), com apenas 11 de sacerdócio.
Em 1968, tornou-se arcebispo de Salvador e, em 1971, arcebispo do Rio.
Ficou à frente da arquidiocese carioca até 2001, onde se tornou
referência na defesa de perseguidos políticos. Em 2008, soube-se que ele
abrigou mais de 4.000 pessoas perseguidas pelos regimes militares do
Cone Sul entre 1976 e 1982 (veja ao final da reportagem reprodução de
reportagens do jornal "O Globo").
Ele foi um dos prelados brasileiros que mais cargos ocuparam no
Vaticano. Em nota, a arquidiocese lamentou a morte e registrou: "Dom
Eugenio de Araujo Sales, o mais antigo Cardeal da Igreja Católica, era
Cardeal Presbítero da Santa Igreja Romana, do Título de São Gregório
VII. Seu lema, fundamentado na Carta de São Paulo aos Coríntios, foi:
'Impendam et Superimpendar' (2Cor 12,15: 'De muito boa vontade darei o
que é meu, e me darei a mim mesmo pelas vossas almas, ainda que,
amando-vos mais, seja menos amado por vós')".
O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, decretou luto de três
dias. Ele e o prefeito da cidade, Eduardo Paes, divulgaram notas em que
lamentam a morte do religioso.
O atual arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta, afirmou ao Jornal da
Globo (veja vídeo acima) que "Dom Eugênio Sales foi um homem que seguiu
Jesus Cristo, que soube estar presente nos momentos do Brasil, na
questão dos refugiados, dos perseguidos. Ao mesmo tempo, teve sua
presença junto ao Vaticano. Ele deixa marcada sua vida pela sua presença
significativa na Igreja e no Brasil. Lembramos de sua atuação na Favela
do Vidigal, ajudando os mais necessitados. Foi alguém que nunca deixou a
fidelidade ao seu amor à Igreja e ao Santo Padre”
Trajetória
Dom Eugênio Sales nasceu em 8 de novembro de 1920 e entrou para o
seminário em 1936. Após o Curso de Humanidades, foi enviado ao Seminário
Maior da Prainha em Fortaleza, onde permaneceu de 1937 a 1943.
Sua ordenação diaconal ocorreu no dia 16 de março de 1943. Na manhã do
dia 21 de novembro do mesmo ano foi ordenado sacerdote por Dom
Marcolino, na antiga Catedral de Nossa Senhora da Apresentação, em
Natal, e celebrou a primeira missa por ocasião da festa da padroeira com
a homilia proferida por Monsenhor Paulo Herôncio.
No início do seu ministério sacerdotal recebeu a nomeação para coadjutor
da Paróquia de Nova Cruz e capelão do Colégio Nossa Senhora do Carmo.
Em 1944, transferido para Natal, foi designado capelão do Colégio
Marista, diretor espiritual e professor do Seminário São Pedro.
Em 1954, aos 33 anos, foi nomeado bispo auxiliar de Natal pelo Papa Pio
XII. Em 6 de janeiro de 1962, foi nomeado administrador apostólico de
Natal, função exercida até 1964.
Naquele ano, foi também nomeado administrador apostólico da Arquidiocese
de Salvador. No dia 29 de outubro de 1968, foi nomeado pelo Papa Paulo
VI arcebispo de Salvador.
Em 28 de março de 1969, o Papa Paulo VI comunicou oficialmente a escolha
de Dom Eugenio Sales para o Colégio Cardinalício. Durante o Consistório
realizado entre os dias 28 de abril e 01 de maio de 1969, é criado
Cardeal.
No dia 13 de março de 1971, foi nomeado arcebispo da Arquidiocese do Rio
de Janeiro pelo Papa Paulo VI. Ocupou o cargo de 27 de março de 1971 a
25 de julho de 2001.
Reportagem do site do jornal "O Globo" lembra que, "em 67 anos de vida
dedicada à Igreja, o cardeal foi rotulado tanto como líder conservador
quanto 'bispo vermelho', por ter, no início do sacerdócio, ajudado a
criar os primeiros sindicatos rurais no Rio Grande do Norte. Um capítulo
importante da vida de Dom Eugenio remonta à ditadura, quando atuou de
maneira silenciosa, abrigando no Rio mais de quatro mil pessoas
perseguidas pelos regimes militares do Cone Sul, entre 1976 e 1982,
especialmente argentinos".
Nenhum comentário:
Postar um comentário