No contexto comemorativo da morte do hoje Beato João XXIII, em 3 de junho de 1963, e dos 50 anos de realização do Concílio Vaticano II (1962-1965), justifica-se rememorar aquele que o chamavam de “Bom Papa João”, bem como a principal realização do seu Pontificado: o Concílio Vaticano II, concluído por seu sucessor, Paulo VI. Diz-se de João XXIII “ter sido o papa mais querido de toda a História da Igreja”; já do Concílio Vaticano II se pode afirmar, sem exagero, ter sido o mais importante acontecimento da Igreja Católica, no século XX.
Angelo Giuseppe Roncalli (1881-1963), terceiro dos treze filhos de uma família de camponeses italianos, ordenado sacerdote, em 1904, assumiu, também, outras atividades, como: professor, capelão hospitalar e militar. Em 1921, foi nomeado Diretor Nacional da Congregação da Fé. O interesse pelo ensino e pesquisa em História fez dele um professor de História da Igreja, tendo influenciado o papa Pio XI, 1922-1939, que o escolheu para importantes missões diplomáticas, no que se revelou um dos mais hábeis negociadores da Diplomacia Vaticana. Foi Visitador Apostólico na Bulgária, Delegado Apostólico na Turquia e Grécia, oportunidade em que salvou do massacre milhares de prófugos da Segunda Guerra Mundial, dentre elas, crianças e judeus. Sua última missão diplomática foi de Núncio Apostólico da França, a partir de 1944. Toda a sua ação na Diplomacia foi marcada por dificuldades inerentes ao contexto de influências dos regimes nazifacistas, responsáveis pela pior tragédia do Século XX, o Holocausto. Foi o Primeiro Observador Permanente do Vaticano na Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas (UNESCO) de (1951-1952), por nove meses.
É nomeado Cardeal Patriarca de Veneza, quando se dedica a uma intensa atividade de Pastor, tendo como modelo São Carlos Borromeo, um dos mais admiráveis implementadores das Reformas do Concílio de Trento, 1546-1563, o mais longo e dogmático concílio da Igreja.
Com a morte de Pio XII, em 1958, o Cardeal Roncalli, de origem modesta, mas com larga experiência diplomática, invejável cultura, proeficiência em várias línguas, mesmo às vésperas de completar 77 anos, foi eleito papa, adotando o nome de João XXII, escolha que ele justificou aos seus pares, os cardeais: “a fim de renovar a exortação do Apóstolo de João para ‘nos amarmos uns aos outros’, evidenciado em suas atitudes de Pastor como já expôs, ao tomar posse na Catedral de sua Diocese de Roma, a Basílica de São João de Latrão, quando lembrou à Congregação “que ele não era um príncipe cercado pelos sinais de poder material, mas um “Sacerdote, Pai e Pastor”. Já, em 25 de janeiro de 1959, na Basílica de São de Latrão, surpreendeu o Corpo Cardinalício e a toda a Igreja, convocando um Sínodo para a cidade de Roma; criando uma Comissão para Reforma do Código de Direito Canônico e a inesperada convocação do Concílio Ecumênico Vaticano II, que ele afirma ter sido uma ‘inspiração do alto’, e cuja finalidade seria uma reforma interna da Igreja Católica, preparando-a para um diálogo com o mundo Moderno, com as Igrejas Reformadas e as Grandes Religiões, com a cultura contemporânea. A Igreja, compreendida pelo Vaticano II, devia ser pobre, preocupada com Justiça Social, com sua dimensão pastoral, com a participação ativa dos fiéis na liturgia e, também, atuando no mundo como um lugar de santificação. Tudo isso fez o mundo acolher a morte de João XXIII, em 3 de junho de 1963, como a ‘páscoa’ de um Santo, e que a Igreja fez justiça ao fazê-lo Beato.
Por Pe. Vicente Laurindo de Araújo - vigário paroquial de São Pedro, Alecrim.
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